O PROJETO
Entre filmes órfãos, domésticos, amadores e independentes feitos por pessoas de Campinas ou radicadas na cidade, o projeto Coleção Cinema Campineiro digitalizou 60 filmes em 8mm e Super-8, em resolução 2K. Esse conjunto é composto por títulos de quatro coleções: Filmes Órfãos, ACHO – Arquivo Coleções de Histórias Ordinárias, Hiram de Souza e CEFQ – Cinema Experimental de Fundo de Quintal.
O primeiro conjunto de filmes digitalizados pelo projeto foi o dos filmes órfãos encontrados em uma lata de lixo em Campinas e doados ao pesquisador Rodrigo Faustini, residente na cidade. Os filmes contêm registros de uma família, no início dos anos 1970, entre cidades do interior de São Paulo e em viagens por Minas Gerais, Bahia e Argentina.
O ACHO – Arquivo Coleções de Histórias Ordinárias é uma iniciativa da artista Estefania Gavina e da pesquisadora Fabiana Bruno. Com sede no Ateliê Casa, em Campinas, o projeto reúne imagens órfãs encontradas por catadores da cidade, além de imagens doadas ao acervo. Embora o foco principal seja em fotografias, uma parte do acervo inclui filmes domésticos e institucionais em Super-8, de diversas origens e épocas.
Dois outros importantes conjuntos de filmes domésticos e amadores também foram digitalizados pelo projeto: o acervo de Hiram de Souza e os filmes do artista Getúlio Grigoletto, um dos fundadores do grupo CEFQ – Cinema Experimental de Fundo de Quintal, coletivo independente de fundamental importância para o patrimônio audiovisual da cidade, focado na produção em Super-8.
Vindo de Niterói, Hiram de Souza mudou-se com a família para Campinas na década de 1970, vivendo entre as duas cidades desde então. Seus filmes domésticos registram, entre outras coisas, diversos concursos de beleza ao longo das décadas de 1970 e 1980, documentando costumes de moda e relações de gênero da época, além da cena de esportes radicais entre Campinas e o Rio de Janeiro. Um de seus filmes de surfe, intitulado Itacoatiara, foi premiado no IV Festival Nacional do Filme em Super-8 do CCLA – Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, em 1977.
Getúlio Grigoletto, cuja filmografia é considerada uma das 25 maiores do país no formato Super-8, é um artista de grande relevância para Campinas. Participou da fundação da Feira Hippie do Centro, que se tornou uma atração cultural tradicional da cidade, e foi um dos fundadores do grupo Cinema Experimental de Fundo de Quintal, que comemora 50 anos em 2025. Os filmes de seu acervo digitalizados pelo projeto incluem animações (inclusive uma pintada diretamente na película), documentários (como EM TEMPO, sobre a Vila Industrial de Campinas), ficções (como SILÊNCIO, filmada no centro da cidade), filmes didáticos, registros caseiros e amadores de eventos e figuras da região, como o artista Amadeu Tilli. A digitalização desse acervo contribui para difundir e expandir o conhecimento sobre a filmografia de animação e a produção independente em Super-8 na cidade, cujos festivais dedicados à bitola nos anos 1970 foram pioneiros no país.
Além da digitalização dos filmes, o projeto realizou uma pesquisa aprofundada sobre o contexto de produção e conteúdo das obras, elaborou um plano de preservação digital para o material digitalizado e disponibilizou os filmes à comunidade local e ao público em geral de variadas formas. Inclusive os 35 filmes que possuem medidas de acessibilidade, sendo 30 destes com audiodescrição e 5 com legendas descritivas, estão disponíveis aqui no site. Essas iniciativas revitalizam o valor histórico, cultural, educacional e estético dos filmes e ampliam seu acesso para todos os públicos.
O projeto também incorporou atividades de formação e difusão, com destaque para uma oficina gratuita sobre preservação audiovisual e uma sessão especial com uma seleção dos filmes digitalizados que contou com a presença dos realizadores, ambas realizadas no espaço cultural Fêmea Fábrica, em Campinas.
